Autoritarismo x Permissividade? - Colégio PoliBrasil

Autoritarismo x Permissividade?

autoritarismo x permissivo

Vivemos num mundo cada vez mais incerto, veloz, desafiador, complexo e competitivo, cuja única certeza é a mudança constante. Todos já ouvimos esta afirmação reiteradas vezes, mas é importante citá-la para podermos entender o fato de passarmos a comparar, questionar, aceitar ou refutar regras e paradigmas até então inquestionáveis! No livro Disciplina Positiva, de Jane Nelsen, a autora faz uma pergunta, não exatamente com estas palavras, referindo-se à educação de crianças e jovens: “será que a batalha entre o autoritarismo e a permissividade continuará para sempre”?

Peço licença para começar essa reflexão dando alguns passos para trás, relembrando experiências vividas e compartilhadas com pessoas próximas a mim.

Desde muito pequena tenho alma de educadora. É viva a lembrança de filas de crianças a me seguirem: ser professora era minha brincadeira favorita e ordens dadas aos meus alunos eram claras, indiscutíveis e emanavam de mim com naturalidade ditatorial! Entre a infância e a vida adulta era um longo caminho a percorrer e as melhores coisas, na minha visão, eram reservadas aos adultos, pois não podíamos desobedecer os mais velhos, incomodá-los com nossos barulhos, muito menos desrespeitar regras a serem seguidas! Meu sonho era crescer e conquistar a independência, a liberdade de expressão, o acesso aos lugares proibidos. Ouvia sempre que tudo isso seria um dia conquistado, à medida que eu amadurecesse e cuidasse com responsabilidade da minha vida.

Essas previsões ficaram cravadas em mim, como verdade absoluta e imutável!

Hoje o quadro que se apresenta é muito diferente! As crianças adoram a sua condição. Salvo exceções, são muito valorizadas na família e tratadas com deferência na escola e na vida social. A tentativa dos pais é dar-lhes uma educação mais liberal, entretanto sentem-se acuados. Exigentes e tratadas como o centro das atenções, a maioria das crianças desconhece o significado da palavra limite! Do outro lado, inseguros, os adultos não sabem como tratá-las julgando-as bibelôs que podem se quebrar ao primeiro atrito. É nesse momento que retomo as condições da minha infância e relato quais aspectos foram determinantes para abrandar o meu autoritarismo: pude transformar minha impetuosidade em determinação, minhas convicções em autoconfiança, regras rígidas em pontos de vista e o discurso unilateral em escuta ativa!

Parece simples, rápido e mágico quando apresentado assim. Mas, ao contrário, foi complexo, demandou cautela, paciência e muito amor!

Diferentemente do que presenciamos hoje e talvez até de forma não premeditada, fui agraciada pelo respeito, empatia e assertividade das pessoas que me cercavam. Educar dá trabalho, demanda tempo e reflexão! A omissão e a indulgência são mais fáceis e dispendem menos tempo e energia. Talvez por isso estejamos vendo a facilidade com que muitas crianças manipulam seus pais. Chega a ser surpreendente! Em alguns casos os sentimentos de culpa dos adultos estão na raiz do problema e por mais que ouçam especialistas ressaltarem a importância dos limites para o equilíbrio emocional, entram em crise toda vez que precisam ser mais firmes com os filhos.

Talvez a convivência familiar neste afastamento social tenha sido providencial para deixar aflorar premissas que considero fundamentais e que fortalecem a estrutura emocional da criança, à medida que ela passa a se sentir útil, podendo contribuir com seus familiares e sendo capaz de lidar com o inusitado, com o desconhecido! Crianças amadurecem quando desenvolvem pequenas tarefas com responsabilidade, percebendo que são competentes e capazes. Viver o aleatório, fortalece sua resiliência e a faz perceber sua capacidade de adaptação ao novo. Protegendo-as de tudo, não permitimos que elas se tornem fortes, capazes de entender a vulnerabilidade humana!

Impor limites? Permitir tudo? Como devemos proceder então? Costumo dizer que bom senso, respeito e empatia são elementos de nosso lugar de educador.

Não existem respostas totalmente certas ou erradas. Posso dizer contudo que podemos e devemos praticar a boa convivência e sermos honestos com aqueles que nos veem como referencial para a vida! Arrisco colocar algumas afirmativas que me ajudaram a encontrar um bom caminho em minha missão educadora, na vida pessoal e profissional. Houve erros e acertos, tropeços e dúvidas, mas a boa intenção e o amor estavam presentes.

  • Não existe liberdade sem ordem;
  • É mais eficaz praticar a proximidade e a confiança mútua do que a distância e a hostilidade;
  • É importante focarmos na solução e não no problema;
  • As regras devem ser construídas para benefícios mútuos;
  • Não se resolvem conflitos em momento de stress

Precisamos permitir que nossas crianças cresçam saudáveis. Crescer é ter que assumir responsabilidades. É enfrentar uma vida social e profissional competitiva, é tolerar bem frustrações e contrariedades. É lutar muito para obter as coisas que na infância se conseguia como num passe de mágica. É sofrer as amarguras das derrotas sentimentais. É enfrentar tudo isso estando muitas vezes, totalmente despreparado. Estamos criando uma geração muito mais frágil do que a nossa. Será que isso é o melhor que podemos fazer?

Texto: Silvana Pepe (Metodologia OPEE) | Foto: Depositphotos

 

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