Como lidar com as frustrações de seu filho? - Colégio PoliBrasil

Como lidar com as frustrações de seu filho?

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A frustração faz parte da vida, certo? Nem sempre. Ainda que muitos de nós tenhamos crescido ouvindo isso dos nossos pais, nem sempre os familiares hoje têm conseguido transmitir esse importante ensinamento para crianças e adolescentes.

Nas mais diversas camadas sociais, nos mais diversos níveis educacionais, temos observado uma crescente onda de permissividade, superproteção e mimos. O nível de endividamento do brasileiro cresceu a tal ponto que passa a ser um problema cada vez mais presente em muitas famílias: conseguir equacionar os desejos infinitos dos filhos com o salário ou a renda, que é sempre finita, dos adultos. Isso gera estresse, discórdias, conflitos e mesmo o casal acaba ficando com a sua saúde emocional abalada diante de filhos e filhas que imperam, impondo a qualquer custo o seu desejo.

Como chegamos a esse ponto? Diversos são os fatores que compõem esse pernicioso caldeirão de ingredientes que precisa ser, urgentemente, remodelado.

É importante entendermos que há diversos fatores que conjugam uma situação como esta, dentre os quais podemos destacar o aumento da violência, que faz com que muitos pais, muitas vezes, no lugar de deixarem seus filhos livres, acabam organizando uma agenda lotada de atividades. Outro fator são as dificuldades de encontrar um sentido para a própria vida. No lugar de perceber o próprio vazio interior e driblar os próprios dramas pessoais não são poucos os pais que colocam como a sua prioridade número 1 fazer o filho feliz.

Além desses fatores, some-se a isso o fato de que hoje não precisamos mais ir até as lojas, elas nos chegam pelo celular pelos grupos de WhatsApp, nas telas, em todos os lugares, até no elevador e antes de dormir, aquela última olhadinha no smartphone, direta ou indiretamente, acaba trazendo uma ideia, ou até um ideal, de que consumir é um verdadeiro passatempo.

Diante de tudo isso, é preciso parar para pensarmos no verdadeiro significado de uma das expressões mais importantes a serem conjugadas ou talvez aprendidas nas famílias: nada enobrece mais o ser humano do que aprender a ter o direito de não ter. Vem daí a expressão dar limites. Dar limites é uma verdadeira dádiva, porque na hora que um pai ou uma mãe dá o limite, orientando o filho a deixar o celular fora do quarto na verdade ele está entregando uma mente preparada para aprender, para acordar e para viver no dia seguinte. Na hora que um pai ou uma mãe dá o limite e diz: “chega!” quando o filho comeu demais, ela está, na verdade, entregando um corpo sadio, uma vida plena. Quando um pai dá o limite dizendo ao filho que primeiro faça as tarefas e depois desça para jogar bola ele, na verdade, está entregando um preparo, uma disposição para a disciplina, a perseverança e a inteligência.

Dar ao filho o direito de não ter talvez seja um dos maiores desafios e por outro lado uma das maiores dádivas que um pai ou uma mãe pode oferecer aos seus filhos. Crescer sem aprender a lidar com as frustrações, sem esperar, sem ter jogo de cintura, sem compartilhar, sem dividir com os demais os recursos, faz com que desenvolvamos uma dose exagerada de egoísmo, narcisismo e individualismo, o que pode gerar uma situação de violência contra si ou contra o outro, haja vista o fato de que a nossa felicidade, e até o nosso sucesso profissional, passando pela nossa saúde, advém da qualidade dos vínculos que temos.

Um dos maiores estudos já feitos sobre o tema, chamado Grant Study, que acontece há mais de 70 anos com aproximadamente 20 milhões de dólares envolvidos, mediu os fatores que impactariam numa vida plena, numa vida feliz. Foram analisados estado civil, local de moradia e até grau de instrução, mas tudo isso se mostrou inferior ao verdadeiro fator que mais promove o estado de felicidade autêntica: a qualidade dos vínculos afetivos que construímos.

Ora, para podermos nos relacionar bem com os demais precisamos primeiro traçar uma boa relação conosco mesmo, aprender a dar e a receber, a ceder e a colocar os nossos desejos e a transitar pelos desejos do mundo, aprender a conviver, desenvolver valores. Todas estas experiências que envolvem a habilidade de lidar com a frustração com inventividade, criatividade, empatia e humanidade é o que nos faz seres humanos plenos, felizes, íntegros e integrados com a vida boa que queremos e merecemos.

E você, o que tem dado aos seus filhos, aos seus alunos? Ensiná-los a se frustrarem não é ser um mau pai, uma má mãe, ao contrário, é ser um pai ou uma mãe que se importam de verdade.

Texto: Leo Fraiman (autor da Metodologia OPEE)| Foto: Depositphotos

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